"com quem você quer falar por horas e horas e horas...."

que eu ganhei um alívio nesse 11 de setembro... que meu cansaço desse dia foi embora... que a dor que eu carregava, que a culpava que me corroía aos poucos não me engoliu dessa vez.

eu, que quase ia ganhar outro nó na garganta quase dissolvi nas minhas lágrimas doloridas...

eu não gosto de chorar... que quando eu choro sinto dor no meu corpo inteirinho... chorar pra mim dói, me esgota, me dilacera.

que eu tenho medo do segundo seguinte, que eu sempre fico na ponta dos pés frente ao abismo....

e às vezes eu tenho vontade de ficar deitada o dia todo, de tão cansada que a minha alma está... de tanto segurar o choro pra não me doer...

porque eu não sei ser o que os outros esperam, porque eu nunca digo o que as pessoas esperam... muito pelo contrário... eu sou debochada... eu não guardo a minha língua... eu choco, eu saio do comum, eu irrito as pessoas, eu jogo na cara delas tabús e palavras que não podem ser ouvidas... eu não tenho censura... e por isso eu quase fiquei sem nada também.

eu nunca mais tive nada seguro pra me agarrar, e eu tinha medo de ser eu mesma, e eu criei tanto bloqueio, tanta auto-defesa... eu me entreguei, eu me deixei cair no seu colo.... eu te mostrei que eu não sou bonita por fora, nem por dentro... eu te mostrei que eu não sou tão boa e inteligente.... eu te mostrei as minhas cores, as minhas fotografias, eu te contei os meus segredos... eu me deixei inteira pra você....

no momento em que me beijou eu juntei todos os meus caquinhos e tive meu coração outra vez batendo acelerado... porque me tocou, porque foi a melhor coisa do meu ano todo, porque eu quase me desmanchei nos seus braços.... porque quando eu deitei minha cabeça no travesseiro, meu único pensamento era você... e eu estava feliz.... como há muitos anos não estava.

eles tentam me colocar medo, eles tentam fazer com que eu fique presa, eles ficam o tempo dizendo que ninguém é capaz de ser pra mim...

e eu? ah, eu vou indo, com um pé depois do outro, com uma desculpa depois da outra por tanto errar.
eu, com minha alma costurada, rala, rasa, vou indo... eu, vou assim... de dois que é bem melhor...
com o coração leve, com amor nos olhinhos, e com os dedos entrelaçados.
e eu não olho pra trás.