terça-feira, 18 de outubro de 2011




-oi...
-e ae...
-e ae...
-oi...
-beleza?
-beleza?
-e ae?
-e ae?
-o que você tá fazendo?

até chegar nessa última frase do que seria o começo de uma longa conversa, ficamos nessa... de não saber como lidar com as nossas vozes... de não saber o que dizer, mas de querer dizer...
me lembro da última vez que nos vimos.... e me lembro dos ombros dele virando as costas pra mim...
me lembro de me perguntar todos os dias como foi que nos perdemos um do outro... quando é que começamos a esquecer do amor... exaustivamente eu me culpava por não saber como é que a gente foi ficar assim... e sentia falta todos os dias...

e me lembro que demorou um tempo até eu conseguir me desarmar, até eu saber pedir ajuda a ela... e eu me lembro exatamente de ter dito isso: - me ajuda, me ajuda porque eu não sei mais continuar... porque eu não sei mais continuar sozinha... porque é uma dor tão aguda que eu não sei se quero mais estar aqui... eu não aguento mais estar aqui.

e eu comecei a pensar... que eu me doía tanto, tanto que nem ele conseguia chegar perto de mim......

e eu esperei muito tempo por esse telefonema... e eu esperei dia após dia.... que tivesse alguma coisa que o fizesse pensar que eu não merecia tanto tempo longe... que não merecia tanto desprezo...
e mesmo se ele me desse essa chance, eu não saberia como fazer... eu estragaria tudo novamente e assumiria uma antiga culpa - antes dessa - por uma coisa que não se deu sozinha.

e eu fiquei amargurada durante tanto tempo, e durante todo esse tempo eu o via em todos os lugares, em todos os toques... eu pensava que nunca mais ninguém ia gostar de mim...
porque ele me viu menina, porque ele me tranformou numa mulher.... porque éramos os melhores amigos de todo o mundo, porque éramos pra nós mesmos....  e repito: eu me perguntava todos os dias quando é que a gente começou a se perder e não percebemos....

eu sei as vozes se estederam por tanto tempo que quando eu cheguei em casa e entrei no meu quarto, percebi que não havia mais espaço pra ele... percebi que há algum tempo já não havia espaço pra ele... as minhas paredes já tinham tomado outro tom... as coisas já mudaram de lugar... há outras coisas.
e eu percebi que até ali eu não pedi desculpa por nada que eu disse, que eu discordei e não achei ruim e não mudei de opinão...
já somos tão diferentes... eu mudei tanto... ele mudou tanto... e nenhum de nós cabe na vida do outro agora...
nós nos perdemos tanto tempo atrás que hoje ninguém sabe o caminho de volta... e nenhum de nós quer encontrá-lo novamente...

desliguei o telefone com a bateria já quase no fim.... olhei em volta e me reconheci outra vez.... sentei na cama e chorei tanto, por tantos anos, por tanta mágoa, por tantas quartas-feiras, por tanto que eu fiz... por tanto que eu me tornei... chorei por minha família.... chorei pela família dele, chorei por nosso desencontro, e chorei por finalmente estar aliviada, por ter resolvido isso na minha vida... por seguir em frente, por não ter de olhar nunca mais prás trás... por não ter que esperar por um perdão de culpa que não é meu... eu chorei porque então não precisava mais sentir nada. e eu não senti muito.

eu apenas sequei meu rosto e segui em frente.

Um comentário:

  1. Nossa... Me vi tanto nesse seu texto...
    Uau!
    Como essa vida é maluca! Mas, como é bom sabermos que não somos os únicos a passar por determinadas coisas...

    Beijo

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