7x com juros



quando eu fiquei do lado de fora me dei o direito de trancar a porta e passar muito tempo sem mostrar ou dizer quem eu sou; mas mesmo antes disso ele nunca soube.

passei a maior parte do tempo mentindo sobre tudo que estava a minha volta, e não porque fosse ruim, mas porque tudo era ruim pra ele.

me condenava pelas letras de meus rock's, mas foi ele quem comprou quase todos os cd's da legião mesmo odiando o renato russo até o último fio de cabelo (que ele não tem). 

eu sempre digo as coisas o mais rápido que posso, e tenho tentado parar de conversar dentro do carro, pois sempre discutimos e eu sempre acho que ele vai bater o carro para me fazer calar...

num daqueles dias em que eu achava que fosse morrer de tanta dor, cheguei em casa, e como costume fui direto pro meu quarto... não tinha mais nada que me fizesse ver... ele escondera todos os porta-retratos que me magoariam... só porque me magoariam...

eu nunca soube agradecer as coisas que ele fez/faz por/para mim... o máximo era um "obrigado" ríspido e tímido...

o nosso máximo de afetividade eram bilhetes com letras do renato russo.

talvez uma ou outra foto juntos.
e quando aquele cara foi embora, eu não sabia mais me sentar ao seu lado no sofá.... e nem fazer comentários na hora do futebol... simplesmente porque eu não cabia mais ali.

hoje, enquanto ele pintava a nova janela do meu quarto, resolvi como quem não quer nada ( não quero), contar um pouco sobre a minha vida. ele, calado como sempre, ia me dando sinais para continuar... e eu continuei. ele fez cara de bravo, engrossou a voz, mas quando eu disse que eu tinha algo novo além da janela, aquietou; não sorriu porque sorrisos entre nós não são consentidos... mas o silêncio agora não pedia argumento. ele estava aliviado também.



"sou uma gota d'água

sou um grão de areia"