terça-feira, 19 de julho de 2011

"eu não sei dizer nada por dizer..."


estava cansada e brava por ter que caminhar um pouco mais.
antigamente aquele caminho me deixava angustiada, e eu sempre chorava até chegar em casa.

hoje, enquanto fazia o mesmo caminho, pensava com alívio em como aquela rua não me magoava mais.
mas o que eu quero dizer é que eu estou passando por este caminho. que eu estou seguindo em frente.

e não que eu não pudesse, mas desabar nunca foi uma opção que valesse apena. entretanto naquele exato momento não era algo que eu tivesse controle, eu simplesmente chorei até quase soluçar e eu acho que eu só fiz isso porque eu queria, devia e podia.

também pensei que talvez um copo de leite me cairia muito bem.

eu nunca reclamei das condições que me foram impostas todos esses anos; nunca pedi uma explicação e nem procurei pêlo em ovo... eu aceitei tudo como um processo natural das coisas... e nunca foi isso.

(pausa para o café, porque eu aprendi que é bom pra rebater). -eu não tomo café.
uns cinco ou seis anos atrás, me lembro do chão gelado e bom do quarto dela... eu passava tardes ouvindo o passeio da boa vista, olhando o pôr-do-sol pela janela dela; eu sofria menos.

demorou muito tempo até que me sentisse segura o suficiente para me trancar dentro de um novo apartamento; até que eu começasse a confiar em alguém ou em coisas... eu estava apenas sendo eu mesma e sorrindo outra vez; às vezes gargalhava. isso era bom.
então, de repente, não mais que de repente achei que o 15º andar era alto demais pra mim. e foi. o tombo foi alto, doeu e congelei. não valeu uma migalha das minhas dores.

e lá estava eu, uma graduandazinha fedida e irritada com as moças que discriminam a sexualidade alheia. gente reprimida.
ultimamente eu estava impaciente, eu estava simplesmente precisando de algumas cervejas e ouvir uma música legal.
e não foi o que aconteceu.

me lembro de ver o número dele no celular e mentalizar: -liga, -liga, -liga...

hoje ele segurou a minha mão e eu fiquei com medo de machucá-lo.... soltei bruscamente e tive todo medo do mundo por isso.

enquanto viajávamos pela estrada de zig zag, pensava em como era bom sentir aquele vento atravessando o que conseguia do meu corpo... como era bom colar-me ao corpo dele. eu estava feliz. e qualquer coisa diante de nós, em volta de nós, era pequeno comparado à sensação de bem-estar, de amor absoluto. eu estava amando incondicionalmente.
e eu imagino o quanto de montanhas temos pra ver. e os mais de 152 km que vamos rodar juntos.... eu estou com ele, em toda estrada que ele for.
e eu não consigo dizer em palavras e nem mesmo demonstrar o quanto ele tem sido importante na minha vida... o quanto seguir em frente tem tido tantos e outros significados...
e esperar ele voltar do banho, até que não é ruim. ele pensa de lá. eu penso de cá.

e eu quero tanto dizer o que sinto quando ele pergunta o que eu sinto. e eu quero tanto confiar de olhos fechados e não ter medo nenhum. esquecer das minhas auto-defesas e ver que ele não vai me magoar. e eu sei que ele não vai me magoar. eu simplesmente estou me trancando com AMOR do lado de dentro do quarto dele. e os lances de escada não oferece risco nenhum. ele sempre está comigo. ele sempre está.

eu tenho sentado do lado da janela do ônibus. eu tenho pensado muito. em você. (é, você.)
eu tenho tentado me desarmar.
e eu tenho tentado emagrecer.

Um comentário:

  1. Um texto muito bem elaborado.
    Umas metáforas e paralelismos muito bem realizados.
    Quase dá a ideia de ironia.
    Estou a adorar o seu blog!


    Atenciosamente,
    Carlos Leite, http://opintordesonhos.blogspot.com

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