segunda-feira, 4 de julho de 2011

trava-línguas


era uma estrada que parecia não ter mais fim; e eu não via sinal de retorno em lugar nenhum...
horas atrás eu também não vi nenhum sinal de retorno: eu simplesmente vomitei àquelas palavras que talvez não feriu o alvo tanto quanto a mim.
era como se um fio navalhasse a minha garganta... eu cuspi. e não tinha mais palavra nenhuma, eu já havia sido o suficientemente idiota.
então veio os engasgos... e eu não sabia como pedir desculpas de modo que não parecesse que eu estava apenas pedindo desculpas... eu queria engolir aquelas palavras duras de volta.
meus pés procuraram a porta da entrada (ou saída) e rapidamente um instântaneo desespero percorreu minhas veias até as pontas de meus dedos, onde procuravam a chave daquela porta. pedi a chave como quem pede pra ficar.

meu estômago de repente contraiu e eu quase vi meu rosto raspar no asfalto: eu só não queria ter magoado.
e às vezes a minha sensiblidade falha... e é nessas horas que eu tenho vontade de sair correndo.

não, claro que as coisas não se resolvem pedindo pra destrancar a porta. mas é que nesses momentos minha voz fica estridente, insuportável, e eu não sei lidar com isso.
ele também não queria mais trancar a porta. a gente perdeu a chave. a gente se perdeu.
e eu ainda estou aqui, com medo das minhas palavras e pra onde elas podem me levar... e eu juro: eu gostaria que a porta ficasse trancada o tempo todo. que meus pés fincassem no chão até que as minhas palavras não ferissem a ninguém... que as minhas palavras ríspidas e doloridas não o faça abrir as portas e janelas, porque eu não quero mesmo ir embora.

então ele segurou a minha mão e trancou a porta. eu fiquei aliviada por isso e tirei meus sapatos: era lá que eu estava e lá também eu fiquei.

nota mental: trancar a língua.

6 comentários:

  1. Gostei muito ...bjs ..um lindo dia..bjs

    ResponderExcluir
  2. "era uma estrada que parecia não ter mais fim" nossa vida é permeada dessas estradas.

    :)

    Bjos

    ResponderExcluir
  3. Nossa....fantástico. Posso sentir as suas emoções enquanto percorro as linhas da tua narrativa. Você escreve muito guria!

    ResponderExcluir
  4. Eita, era só uma visita, mas cheguei com texto chave de ouro! E emocionante, não resisti!
    Bjos

    ResponderExcluir
  5. incrível!

    é tão difícil a gente se controlar no nervoso não é? parece que a raiva toma conta de tudo, e quando vemos gritamos palavras que ferem...

    beijinhos

    ResponderExcluir
  6. Lindo texto. Transparece emoções em cada linha. Sutil e singelo. Parabéns!

    ResponderExcluir